sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

PERÍODO INTERBÍBLICO

INTRODUÇÃO

O escopo da disciplina Introdução Novo Testamento I abrangerá o estudo panorâmico dos Evangelhos e do livro de Atos e das cartas gerais, com enfoque nos aspectos histórico, literário e teológico. A contextualização histórica é de fundamental importância no estudo das Sagradas Escrituras. Tal preocupação se apresenta com freqüência nas páginas bíblicas. Tomemos como exemplos os escritos proféticos, onde se nota constantemente a citação dos nomes dos reis, o ano do seu reinado, o local onde o profeta se encontrava e outros dados contextuais (Jr.1.1-3). Tais informações situam a vida do profeta e sua mensagem em um cenário real e historicamente conhecido. Da mesma forma, é mister que tenhamos o conhecimento do contexto histórico que emoldura os fatos narrados nos Evangelhos e em Atos. A localização histórica das origens cristãs evidenciam seu caráter factual, o que não é possível demonstrar em relação a diversas religiões, cujas raízes estão amparadas em lendas, sonhos e visões.

Iniciaremos nossa contextualização pelo chamado "Período Interbíblico", afim de traçarmos a ligação histórica entre o Velho e o Novo Testamento. Tal exame também possibilitará melhor compreensão dos fatores que construíram o cenário político, social e religioso encontrado por Cristo na Palestina. Ao lermos o Novo Testamento, deparamos com muitos problemas cujos motivos se encontram no período interbíblico.

O PERÍODO INTERBÍBLICO

Esse período teve a duração de aproximadamente 450 anos. Normalmente se faz referência a esse tempo como uma época em que Deus esteve em silêncio para com o seu povo. Nenhum profeta de Deus se manifestou ou, pelo menos, nenhum deixou escritos que tenham sido considerados canônicos.

Vamos examinar a situação da Palestina durante esse período, principalmente no que se refere aos impérios, governos, as relações de Israel com os povos vizinhos e as implicações religiosas e sociais destes elementos.

O IMPÉRIO PERSA - FINAL DO V.T.

Império Persa

O Velho Testamento termina com as palavras de Malaquias, o qual profetizou entre 450 e 425 a.C.. Nesse tempo, a Palestina estava sob o domínio do Império Persa, o qual se estendeu até o ano 331 a.C.. Embora o rei Ciro tenha autorizado os judeus a retornarem do exílio, o domínio Persa continuava sobre eles. De volta à Palestina, o povo judeu passou a ter um governo local exercido pelos sumo sacerdotes, embora não houvesse independência política. Eram comuns as disputas pelo poder.

O IMPÉRIO GREGO - 335 a 323 a.C.


Paralelamente ao Império Persa, crescia o poder de um rei macedônico, Felipe, o qual empreendeu diversas conquistas na Ásia menor e ilhas do mar Egeu, anexando a Grécia ao seu domínio. Desejando expandir seu território, entrou em confronto com a Pérsia, o que lhe custou a vida. Foi sucedido por seu filho, Alexandre Magno, que também ficou conhecido como Alexandre, o Grande, o qual havia estudado com Aristóteles. A mitologia grega, com seus deuses e heróis parece ter inspirado o novo conquistador. Alexandre tinha 20 anos quando começou a governar. Seu ímpeto imperialista lhe levou a conquistar a Síria, a Palestina (332 a.C.) e o Egito. Notemos então que o território israelense passou do domínio persa para o domínio grego.

No Egito, Alexandre construiu uma cidade em sua própria homenagem, dando-lhe o nome de Alexandria, a qual se encontrava em local estratégico para o comércio entre o Mediterrâneo, a Índia e o extremo Oriente. Essa cidade se tornou também importante centro cultural, substituindo assim as cidades gregas. Entre suas construções destacaram-se o farol e a biblioteca.

Alexandre o Grande

Em 331, Alexandre se dedicou a libertar algumas cidades gregas do domínio da Pérsia. Seu sucesso militar foi tão grande que considerou-se capaz de enfrentar a própria capital do império. E assim conquistou a Pérsia. Contudo, nessa batalha, que ficou conhecida como Arbela ou Gaugamela, as tropas gregas tiveram de enfrentar um exército de elefantes, os quais foram usados pelo rei da Pérsia. Alexandre venceu o combate, mas os elefantes foram motivo de grande desgaste para seus soldados. Alexandre se denominou então "Rei da Ásia" e passou a exigir para si o culto dos seus subordinados, de conformidade com as práticas babilônicas.

Em 327 a.C., em suas batalhas de conquista rumo ao Oriente, Alexandre encontra outro exército de elefantes, o que fez com que seus soldados se amotinassem, recusando-se a prosseguir. Terminaram-se assim as conquistas de Alexandre Magno. Em 323 a.C., foi acometido pela malária, a qual lhe encontrou com o organismo debilitado pela bebida. Não resistiu à doença e morreu naquele mesmo ano. Não deixou filhos, embora sua esposa, Roxane, estivesse grávida. Quanto aos judeus, Alexandre os tratou bem e teve muitos deles em seu exército. Após a sua morte, o Império Grego foi divido entre os seus generais, dentre os quais nos interessam Ptolomeu, a quem coube o governo do Egito, e Seleuco, que passou a governar a Síria.

O GOVERNO DOS PTOLOMEUS

A Palestina ficou sob o domínio do Egito. Os descendentes de Ptolomeu foram chamados Ptolomeus. Eis os nomes que se sucederam enquanto a Palestina esteve sob o seu governo (323 a 204 a.C.):

Ptolomeu I (Sóter) - 323 a 285 a.C.

Ptolomeu II (Filadelfo) - 285 a 246 a.C. – Durante o seu governo foi elaborada, em Alexandria, a Septuaginta, tradução do Antigo Testamento para o grego. Filadelfo foi amável com os judeus.

Ptolomeu III (Evergetes) – 246 a 221 a.C.

Ptolomeu IV (Filópater) - 221 a 203 a.C. - Ao voltar de uma batalha contra a Síria, Filópater visitou Jerusalém e tentou entrar no Santo dos Santos. Contudo, foi acometido de um pavor repentino que o fez desistir do seu propósito. Foi um grande perseguidor dos judeus.

Ptolomeu Epifânio – 203 a 181 a.C. – Tinha 5 anos de idade quando seu pai, Filópater morreu. Aproveitando a situação, Antíoco - o Grande, rei da Síria, toma o poder sobre a Palestina no ano 204.

O GOVERNO DOS SELÊUCIDAS

Os reis da Síria, descendentes do general Seleuco, foram chamados Selêucidas. De 204 a 166 a.C., a Palestina esteve sob o domínio da Síria. Eis a relação dos selêucidas do período:

Antíoco III - O Grande – 223 a 187 a.C.

Seleuco IV (Filópater) – 187 a 175 a.C.

Antíoco IV (Epifânio) - 175 a 163 a.C. - Em Israel, o governo local era exercido por Onias, o sumo sacerdote. Contudo, Epifânio comercializou o cargo sacerdotal, vendendo-o a Jasão por 360 talentos. Epifânio se esforçou para impor a cultura e a religião grega em Israel, atraindo sobre si a inimizade dos judeus. Tendo ido ao Egito, divulgou-se o boato da morte de Epifânio, motivo pelo qual os judeus realizaram uma grande festa. Ao tomar conhecimento do fato, o rei da Síria promoveu um grande massacre, matando 40 mil judeus.

Em 168 a.C., Antíoco Epifânio sacrifica uma porca sobre o altar em Jerusalém e entra no Santo dos Santos. Ordena que o templo dos judeus seja dedicado a Zeus, o principal deus da mitologia grega, ao mesmo tempo em que proíbe os sacrifícios judaicos, os cultos, a circuncisão e a observância da lei mosaica.

Segue-se então um período em que não houve sumo sacerdote em atividade em Jerusalém (159 a 152 a.C.). Realiza-se então um processo de helenização radical na Palestina.

Vendo todos os seus valores nacionais sendo destruídos e profanados, os judeus reagiram contra Epifânio.

O GOVERNO DOS MACABEUS - 167 a 37 a.C.

Território Governado Pelos Asmoneus (Macabeus)


Surge no cenário judaico uma importante família da tribo de Levi: os Macabeus. Em 167, o macabeu Matatias se recusa a oferecer sacrifício a Zeus. Outro homem se ofereceu para sacrificar, mas foi morto por Matatias, o qual organiza um grupo de judeus para oferecer resistência contra os selêucidas. Tal movimento ficou conhecido como a Revolta dos Macabeus. A Palestina continuou sob o domínio da Síria. Contudo, a Judéia voltou a possuir um governo local, exercido pelos Macabeus. Ainda não se tratava de independência, mas já havia alguma autonomia. A seguir, apresentamos os nomes dos governantes macabeus e alguns de seus atos em destaque.

Matatias (167-166 a.C.)

Judas (filho de Matatias) (166-160 a.C.) - Purifica o templo, conquista liberdade religiosa, restabelece o culto.

Jônatas (filho de Matatias) (160-142 a.C.) – Reinicia a atividade de sumo sacerdote.

Simão (filho de Matatias) (142-135 a.C.) - Reforça o exército e consegue isenção de impostos. Nesse momento a Síria se encontrava fraca, e a Judéia se torna independente. A independência durou entre 142 e 63 a.C.. Simão foi sumo sacerdote e rei da Judéia. Pediu apoio de Roma contra a Síria.

João Hircano (filho de Simão) (135-104 a.C.) – Tinha tendência imperialista. Conquistou a Iduméia e Samaria. Destruiu o templo samaritano e sofreu oposição dos "hassidim", seita dos "santos".

Aristóbulo I – (104-103 a.C.) – prendeu a mãe e matou o irmão.

Alexandre Janeu (103-76 a.C.) - conquistou costas da Palestina – O território de Israel chegou a ter extensão semelhante à que tinha nos dias do rei Davi. Janeu sofreu a oposição dos fariseus.

Alexandra Salomé (esposa de Alexandre) (76-67 a.C.) – foi uma governante pacífica.

Aristóbulo II - (67-63 a.C.) briga pelo poder com seu irmão, Hircano II.

Em 63 a.C., Aristóbulo provoca Roma. Pompeu invade Jerusalém, deporta Aristóbulo e coloca Hircano II no poder.

Hircano II (63-40 a.C.)

Em Roma, o governo é exercido por Pompeu, Crasso e Júlio César, formando o primeiro Triunvirato. O três brigam entre si pelo poder. Júlio César vence e torna-se Imperador Romano. Em seguida, nomeia Antípatro, idumeu, como procurador sob as ordens de Hircano. Faselo e Herodes, filhos de Antípatro, são nomeados governadores da Judéia e Galiléia.

Um ano depois, Antípatro morre envenenado. Passados 3 anos, o Imperador Júlio César morre assassinado. Institui-se um novo triunvirato, formado por Otávio, sobrinho de César, Marco Antônio e Lépido. Marco Antônio e Herodes eram amigos.

Herodes casa-se então com Mariana, neta de Hircano, vinculando-se assim à família dos macabeus.

Na tentativa de tomar o poder, Antígono, filho de Aristóbulo II, corta as orelhas de Hircano II, impossibilitando-o de continuar a exercer o sumo sacerdócio.

Antígono (40-37 a.C.) - Uma de suas ações foi perseguir Herodes, o qual dirigiu-se a Roma, denunciou a desordem e foi nomeado rei da Judéia (37 d.C.). Antígono foi morto pelos romanos.

Termina assim, a saga dos macabeus, cujo princípio foi brilhante nas lutas contra a Síria. Entretanto, foram muitas as disputas pelo poder dentro da própria família. Perderam então a grande oportunidade que os judeus tiveram de se tornarem uma nação livre e forte. Acabaram caindo sob o jugo de Roma.


O IMPÉRIO ROMANO

Império Romano em 44 aC

Sendo nomeado por Roma como rei da Judéia, Herodes passou a governar um grande território. Contudo, sua insegurança e medo de perder o poder o levaram a matar Aristóbulo, irmão de Mariana, por afogamento. Depois, matou a própria esposa e estrangulou os filhos.

A violência de Herodes provocou a revolta dos judeus. Para apaziguá-los, o rei iniciou uma série de obras públicas, entre as quais a construção (reforma) do templo, que passou a ser conhecido como Templo de Herodes.

O domínio direto do Império Romano sobre a Palestina iniciou-se no ano 37 a.C., estendendo-se por todo o período do Novo Testamento.

AMBIENTE RELIGIOSO

O Paganismo

No período intertestamentário floresceram as religiões de mistério, culto provenientes de várias partes do que eram respeitados pelo dominadores. Procurarei a seguir mostrar o que eram, como eram e algumas das principais dessas religiões.

O que foram as religiões de mistério?

Diferente do judaísmo e do cristianismo, as religiões de mistério foram as mais influentes nos séculos que precederam o advento de Cristo. A razão de esses grupos ficarem conhecidos como “religiões de mistério” encontra resposta em suas cerimônias secretas, somente conhecidas por aqueles que se iniciavam em tais religiões.

Esses cultos não representavam, obviamente, as únicas manifestações do espírito religioso no Império Romano oriental. As pessoas daquela época também podiam optar por cultos públicos que não requeriam qualquer cerimônia de iniciação que envolvesse crenças e práticas secretas. A religião olímpica grega e sua contraparte romana são exemplos desse tipo de culto menos místico.

Cada região mediterrânea produziu sua própria religião de mistério. Fora da Grécia, surgiram os cultos (que se desenvolveram posteriormente) tributados a Demeter e Dionísio, assim como a Orfeu. A Ásia Menor concebeu o culto a Cibele, a “Grande Mãe”, e ao seu amado, um pastor chamado Átis. O culto às deusas Ísis e Osíris originou-se no Egito, enquanto a Síria e a Palestina viram a elevação do culto a Adonis. Finalmente, a Pérsia (atual Irã) foi o principal local para o culto de Mitra, que, devido ao seu uso habitual da imagem de guerra, proporcionou uma atração especial aos soldados romanos. As religiões de mistério gregas mais antigas foram religiões estatais, na medida em que atingiram o estado de um culto público ou civil e serviram a uma função nacional ou pública. As religiões de mistério posteriores, não-gregas, eram pessoais, privadas e individualistas.

Características básicas

Apesar da tendência eclética assumida após o ano 300 d.C., cada uma das religiões de mistério estava separada e era distinta das demais durante o século que viu o nascimento da Igreja Cristã. Todas elas assumiram formas diferentes em contextos culturais distintos e sofreram mudanças significativas, especialmente depois do século 1o da Era cristã. Não obstante, é possível apontar cinco características comuns entre elas:

1. O cerne de cada religião era o emprego de um ciclo anual de vegetação, no qual a vida era renovada a cada primavera e terminava a cada outono. Os seguidores dos cultos de mistério imprimiram significações simbólicas complexas nos processos naturais de crescimento, morte, decadência e renascimento.

2. Faziam uso de cerimônias secretas, freqüentemente relacionadas a um rito de iniciação. Todas elas compartilhavam um “segredo” ao iniciado, que consistia basicamente em informações sobre a vida do deus ou deusa cultuado e como os humanos poderiam alcançar a unidade com aquela deidade. Esse “conhecimento” era sempre um conhecimento secreto, inacessível a qualquer pessoa fora do círculo do grupo.

3. Centravam o culto ao redor de um mito, no qual a deidade tinha, como característica principal, o retorno da morte à vida ou o triunfo sobre os inimigos do grupo. Era implícito nos mitos o tema da redenção, mas sob o aspecto terrestre e temporal. O significado secreto do culto e de seu mito era expresso por meio de uma “tragédia sacramental”, o que aguçava os sentimentos e as emoções do iniciados. O êxtase religioso os levava a pensar que estavam experimentando o começo de uma nova vida.

4. Atribuíram pequena ou nenhuma atenção às doutrinas e à reivindicação de possuírem uma crença correta e verdadeira. Estavam, principalmente, preocupadas com a vida emocional de seus seguidores. Os cultos aconteciam de muitas maneiras, sempre com o intuito de afetar as emoções e as imaginações dos iniciados: procissões, jejuns, dramaturgias, atos de purificação, luzes resplandecentes e liturgias esotéricas. A ausência de qualquer ênfase doutrinária marca uma diferença importante entre tais religiões e o cristianismo. A fé cristã era (e continua sendo) exclusivista, no sentido em que reconhece apenas um caminho legítimo para Deus e a salvação: Jesus Cristo. Por outro lado, as religiões de mistério eram ecumênicas e nada impedia o devoto de um culto de seguir outros mistérios.

Reconstruindo as religiões de mistério

Antes de 100 d.C., as religiões de mistério ainda estavam limitadas, em grande parte, a localidades específicas e constituíam um fenômeno relativamente moderno. Depois do século 1o, começaram a atingir uma influência popular que foi difundida, gradualmente, no período do Império Romano. Além disso, sofreram mudanças relevantes na medida em que algumas religiões absorviam elementos das outras. Como esse ecletismo, cresceu agressivamente, emergiram novas e estranhas combinações de práticas e rituais. As religiões reduziram as características mais censuráveis de suas práticas antigas e, com isso, começaram a atrair maior número de seguidores.

As fontes utilizadas por muitos escritores que se lançam no desafio para reconstruir as religiões de mistério são tardias, datadas depois do ano 300 d.C., por isso suas informações são frutos de pelo menos duzentos anos após a produção do último livro escrito e que integrou o cânon do Novo Testamento — o evangelho de João. Logo, a pergunta crucial não deve tratar acerca de uma possível influência das religiões de mistério nos segmentos cristãos depois do ano 300 d.C., mas que efeito elas tiveram no século 1o, momento em que o cânon estava sendo escrito.

O culto de Ísis e Osíris (divindades egípcias)

IrisOsiris

O culto à deusa Ísis se originou no Egito e passou por duas fases principais. Em sua versão egípcia mais antiga, quando não era uma religião de mistério, Ísis foi considerada a deusa do céu, da terra, do mar e do mundo subterrâneo invisível. Nessa fase remota, Ísis teve um marido chamado Osíris. O culto de Ísis só se tornou uma religião de mistério depois que Ptolomeu I introduziu mudanças importantes, em meados de 300 a.C. Na fase posterior, um novo deus, chamado Serápis, tornou-se seu novo cônjuge. Ptolomeu I introduziu mudanças a fim de sintetizar as crenças egípcias e gregas em seu reino, acelerando a helenização do Egito.

Do Egito, o culto à deusa Ísis conquistou seu espaço, gradativamente, em Roma. No princípio, Roma repeliu o culto, mas a religião acabou entrando na cidade durante o reinado de Calígula (37-41 d.C.). Sua influência se expandiu pouco a pouco durante os dois séculos posteriores e, em alguns locais, a religião se tornou a principal rival do cristianismo. O sucesso do culto de Ísis no Império Romano é geralmente justificado por seus impressionantes rituais e pela esperança de imortalidade oferecida a seus seguidores.

Seu mito fundamental remete a Osíris, e nasceu durante o primeiro estágio, quando a religião não era ainda uma religião de mistério. De acordo com a versão mais comum do mito, Osíris foi assassinado por seu irmão, que afundou seu caixão no rio Nilo. Ísis descobriu o corpo e o devolveu ao Egito, mas seu cunhado conseguiu, uma vez mais, chegar até ele e o desmembrou em quatorze pedaços, que foram espalhados amplamente. Após uma longa procura, Ísis recuperou cada parte do corpo. É nesse ponto que as adições empregadas para descrever o que sucedeu são cruciais. Às vezes, acrescenta-se que Osíris voltou à vida. Mas alguns escritores vão além e recorrem a uma suposta “ressurreição”. Um teólogo liberal ilustra a parcialidade que alguns escritores têm quando descrevem o mito pagão com roupagens cristãs: “O corpo morto de Osíris flutuou no rio e ele voltou à vida por intermédio de seu batismo realizado nas águas do Nilo”.

Essa invenção, fabricada a partir do mito original, sugestiona três analogias enganosas entre Osíris e Cristo: (1) Um deus salvador morre e (2) então experimenta uma ressurreição acompanhada por (3) um batismo em água. As comparações são exageradas porque nem toda versão do mito de Osíris narra seu retorno à vida. Em algumas, ele simplesmente se torna o rei morto do mundo invisível. Igualmente, é forçado a tentar achar um batismo análogo ao batismo cristão no mito egípcio. O destino do caixão de Osíris no Nilo pode ser tão relevante para o batismo como o é a submersão de Atlântida, por exemplo.

Também é notável que, durante a fase de mistério dessa religião, a deidade masculina foi substituída, ficando de lado o Osíris morto e entronizando Serápis, que era retratado como o deus do sol, que nada tinha a ver com o antigo marido da deusa. Obviamente, então, nem mesmo ele poderia ser um deus ressurrecto. Portanto, a versão egípcia da religião de mistério posterior a Ptlomeu I, que estava em circulação em aproximadamente 300 a.C., e que adentrou os primeiros séculos da Era cristã, em nada se assemelhava à morte de um deus salvador e ressurrecto, como Jesus Cristo.


O culto de Cibele e Átis



Cibele e Atis

Cibele, também conhecida como a “Grande Mãe”, foi adorada por muito tempo no mundo grego. Ela surgiu, indubitavelmente, como deusa da natureza e da fertilidade. Sua adoração inicial incluía cerimônias orgíacas nas quais frenéticos adoradores masculinos se entregavam à castração, a fim de se tornarem seus sacerdotes. Eventualmente, Cibele recebeu os predicados de “Mãe de todos os deuses” e “amante de todas as vidas”.

A maioria das informações sobre seu culto descreve práticas religiosas vigentes durante o período romano posterior à Igreja cristã primitiva. Os detalhes anteriores a essa data são pouquíssimos e quase todo documento original é relativamente tardio, uma vez que o início de seu culto remete a mais ou menos 200 a.C., enquanto, por outro lado, as fontes primárias são datadas muito depois da última escritura do cânon neotestamentário.

De acordo com o mito, Cibele amava um jovem pastor chamado Átis. Por ter sido ele infiel à deusa, Cibele lança em Átis uma maldição, transformando-o num demente. Átis, conduzido pela loucura, castra-se e morre. Esse fato leva Cibele a cultivar profundo luto e a introduzir a morte no mundo natural. No entanto, a deusa restabelece Átis à vida, elevando-o a uma espécie de semideus, evento que, simultaneamente, devolve a vida ao mundo natural.

Outra narrativa semelhante nos conta que Cibele confia a Átis o cuidado de seu culto, sob a condição de ele não violar seu voto de castidade, mas o pastor esquece o juramento e desposa a ninfa Sangarida. Por conta disso, Cibele o puni, matando a rival. Átis fica profundamente magoado e, num acesso de delírio, mutila a si mesmo e planeja seu enforcamento, mas é interrompido por Cibele, que o transforma em um pinheiro (parágrafo do tradutor).

Atentando à primeira versão, as pressuposições dos intérpretes desse mito tendem a determinar a narrativa que descreve o que se segue após a morte de Átis. Muitos escritores recorrem, negligentemente, à “ressurreição de Átis”. Mas, seguramente, isso é um excesso. Não há, no mito, qualquer menção de algo que se assemelhe a uma ressurreição e que sugira que Cibele tenha preservado o corpo de Átis, tal qual este o possuía em sua existência humana. Em algumas versões do mito, Átis retorna à vida não na forma de homem, mas numa espécie de árvore eterna. Considerando que a idéia básica que está por baixo do mito era o ciclo da vegetação anual, qualquer semelhança com a ressurreição corporal de Cristo é cavalar.

A história nos conta que a encenação pública do mito de Átis se tornou um evento anual, no qual os adoradores acreditavam compartilhar de sua “imortalidade”. Assim, em cada primavera, os seguidores de Cibele lamentavam a morte do semi deus por meio de atos de jejum e flagelação.

Somente durante as celebrações romanas posteriores ao século 1o depois de Cristo (após 300 d.C.), esses festivais de primavera trouxeram alguma coisa remotamente semelhante a algo que se possa considerar uma “ressurreição”. Nessas celebrações, um pinheiro, simbolizando Átis, era cortado e carregado pelos devotos, representando, ao mesmo tempo, seu cadáver e um santuário dedicado a Cibele. Depois, a árvore era enterrada, enquanto os iniciados se entregavam a um frenesi que os levava a se cortar com facas. Na noite seguinte, a árvore era desenterrada e a “ressurreição” de Átis, celebrada. Essa “ressurreição”, contudo, somente é registrada em literatura datada do século 4o depois de Cristo.

Outra questão que envolve esse mito é o taurobolium, “o sacrifício do touro”, rito mais conhecido do culto da “Grande Mãe”. Mas é importante assinalar que esse ritual não fazia parte do culto de Cibele em suas fases iniciais, integrando a religião apenas na metade do século o depois de Cristo.

Durante essa outra cerimônia, os iniciados ficavam em pé ou deitados em uma cova, enquanto um touro era sacrificado em uma plataforma acima deles. Os devotos, então, tomavam um banho de sangue morno do animal agonizante. Há quem alegue que o ritual do taurobolium tivesse sido uma fonte para o conceito cristão da purificação no sangue do cordeiro (Ap 7.14), ou aspersão no sangue de Jesus (1Pe 1.2). Também é defendido que o taurobolium tenha sido a fonte empregada pelo apóstolo Paulo para escrever o ensinamento que consta em Romanos 6.1-4, onde ele relaciona o batismo cristão à identificação do crente com a morte de Cristo e sua ressurreição.

Contudo, nenhuma noção de morte e ressurreição fazia parte do taurobolium. A melhor evidência disponível exige que datemos o ritual, aproximadamente, cem anos depois que Paulo escreveu a epístola que endereçou aos romanos. Nenhum texto existente apóia a reivindicação de que o taurobolium era uma comemoração da morte e ressurreição de Átis antes do século 1o. O rito pagão não poderia ter sido, nem mesmo com probabilidade mínima, a fonte para o ensino paulino que consta em Romanos 6. Apenas perto do fim do século 4o depois de Cristo o ritual agrega a noção de renascimento.Vários estudiosos reconhecidos, inclusive, enxergam uma influência cristã no desenvolvimento desse rito, ficando claro, portanto, que o cristianismo poderia ter influenciado a construção do rito pagão e não o contrário. Além disso, como sabemos, o Novo Testamento ensina que o derramamento de sangue deveria ser interpretado no contexto em que se observava a Páscoa e os sacrifícios no templo judaico, à época do Antigo Testamento, período bastante antecedente.

O culto de Mitra (divindade indo-iraniana)

Mitra

Tentativas de reconstruir as crenças e práticas do mitraísmo geraram desafios enormes, por causa da escassa informação que sobreviveu aos tempos. Sabemos que entre os elementos do culto de Mitra está a explicação dos fenômenos do mundo por meio de dois princípios máximos e opostos, um bom (descrito como luz) e o outro mau (descrito como trevas). Segundo a religião, os seres humanos tinham de escolher por qual lado lutariam, integrando-se ao conflito entre a luz e as trevas. Mitra chegou a ser considerado o mediador mais poderoso no auxílio aos humanos contra o ataque das forças demoníacas.

A razão principal pela qual afirmamos que o mitraísmo não pode ter influenciado o cristianismo do século 1o é a cronologia: é completamente anacrônica! O florescimento do mitraísmo se deu após o fim do cânon do Novo Testamento, período em que já não podia ter influenciado qualquer elemento que nesse constasse. Sabemos que os escritos neotestamentários não podem ser datados em nenhum monumento que suceda ao período de 90-100 d.C. e, mesmo assim, isso exige que façamos algumas suposições bastante generosas. Dificuldades cronológicas, então, fazem da possibilidade de uma influência do mitraísmo no cristianismo primitivo algo extremamente improvável. Certamente, não há evidências críveis para tal influência.

O JUDAÍSMO

A fé judaica era tolerada e respeitada nestes países estrangeiros. E até atraía convertidos. Os judeus gozavam de privilégios especiais, como a permissão de observar o “Sabbath”, coletar e administrar impostos par seu próprio uso e arbitrar disputas legais entre membros do seu grupo. Por acordo,estavam isentos de prestar sacrifícios aos deuses nacionais e cívicos. Ser judeu significava seguir a Lei Mosaica e reconhecer o Templo em Jerusalém, como centro legitimador de sua tradição, enviar o imposto anual de manutenção do Templo ( meia moeda de prata ), e ir a Jerusalém pelo menos para uma das três festas anuais de peregrinos. Em geral, a Diáspora deve ter oferecido oportunidade ao menos tão boa quanto a existente na Palestina, visto que pelo século I D.C., havia mais judeus vivendo fora da Palestina do que nela, o que acontece até hoje.

Grupos Religiosos dos Judeus

Quando, seguindo-se à conquista de Alexandre, o helenismo mudou a mentalidade do Oriente Médio, alguns judeus se apegaram ainda mais tenazmente do que antes à fé de seus pais, ao passo que outros se dispuseram a adaptar seu pensamento às novas idéias que emanavam da Grécia. Por fim, o choque entre o helenismo e o judaísmo deu origem a diversas seitas judaicas.

Principais seitas:

Escribas

Existiam no V.T., não formando uma classe como nos dias de Jesus, mas como secretários dos reis ou do exército. Registravam as histórias, as genealogias e as batalhas com seus sucessos e derrotas (II Rs 25:19, ICr 2:55, Ed 7:6, Ne 8:1-4). No exílio os escribas se fortaleceram.

Antes do cativeiro Babilônico existiam poucas cópias da Lei. Atuando como copistas, os escribas supriram a falta dos livros da Lei, dos Salmos e dos Profetas. Essa circunstância acabou conduzindo os escribas de mero

copistas a intérpretes da Lei. Quando os judeus voltaram de Babilônia, Esdras e depois Neemias tornaram-se grandes escribas-intérpretes .(Ed.7:6 , Ne.8:14) No tempo de Herodes , os Escribas eram considerados autoridades na interpretação das Escrituras, tanto assim que o poderoso

monarca incumbiu-lhes de descobrir onde nasceria o Cristo. ( Mt. 2:4 )

Os Escribas que se ocupavam do ensino eram chamados RABI OU RABINO. Exerciam grande influência e gozavam de distinção entre o povo. Eles, juntamente com os Sacerdotes e os Anciãos, formavam o SINÉDRIO.

Fariseus:

Termo que significa “ Separados “ . O nome fariseu não consta no V.T. Surgiram provavelmente no período interbíblico . O historiador Flávio Josefo menciona-o em 145 a .C. como uma seita já existente. O nome fariseu foi dado ‘a seita em virtude de sua rígida observância aos preceitos da Lei de Moisés. Era o partido maioral nos dias de Jesus, no entanto foram responsabilizados por Jesus por tantos crimes, injustiças e hipocrisia. O povo os considerava como grandes mestres e homens piedosos. José de Arimatéia,Simão, Nicodemos, Gamaliel e Saulo de Tarso eram Fariseus, sendo que alguns se converteram ao cristianismo.

Os Fariseus eram conceituados entre os judeus, enquanto os Saduceus o eram entre os romanos. Mantinham um zelo fanático pela Lei das Purificações evitando o contato com os pecadores, isto é, com pessoas que abertamente violavam a lei. Um exemplo é a mulher pecadora que entra na casa de Simão ‘a hora do jantar. Ela unge os pés do Senhor e chora sobre eles, provocando a censura velada do fariseu... (Lc. 7 : 36 a 50 )

Crenças dos fariseus

Acreditavam na doutrina da ressurreição do corpo, na existência de Anjos e achavam que a alma é imortal e espiritual. Criam que a Lei Oral, dada por Deus a Moisés sobre o monte Sinai, por intermédio do anjo Metratone, transmitida à posteridade por meio das tradições, têm a mesma autoridade que a Lei Escrita. Observando esta lei, o homem não somente obtém justificação de Deus, mas pode alcançar obras meritórias. Os jejuns; esmolas;oblações, etc... Expiam suficientemente o pecado. ( lembrem-se que a Igreja Católica segue esta linha de pensamento. M. Lutero ao ler Rom. 1:17 descobriu que “O justo viverá por fé. Se é por fé,não é por Ritos, Sacramentos ou Penitências, para alcançar a Salvação.) Criam em Deus como criador e governador de tudo. Criam na existência de espíritos bons e maus, na vida após a morte onde os justos serão galardoados e os maus castigados. Um Fariseu não podia comer na casa de um pecador (alguém que não praticasse o farisaísmo) embora pudesse acolher um pecador em sua própria casa, dando-lhe vestes adequadas. A observância do sábado era ponto de honra.

Saduceus

Origem incerta. Crê-se que as doutrinas e práticas peculiares dos Fariseus, deram naturalmente origem ao sistema dos Saduceus.

Segundo Enéas Tognini, em seu livro “O Período Interbíblico”, os Saduceus saíram dos judeus liberais da Babilônia, que se acomodavam às circunstâncias daquele país e contra quem levantou o grupo reacionário dentre os Escribas, primando pela pureza da Lei de Jeová. Os primeiros no decorrer dos tempos se tornaram os Saduceus e os últimos os Fariseus.

O ponto fundamental do pensamento dos Saduceus era a negação da LEI ORAL, admitida pelos Fariseus como dada por Deus a Moisés. Isto significa negar a TRADIÇÃO, ponto saliente da doutrina farisaica. Para o Saduceu, só é Lei, a Lei Escrita.

Os saduceus freqüentavam regularmente o templo e tomavam parte no culto, onde os profetas eram lidos.

Crenças dos saduceus

Sustentavam algumas doutrinas daninhas tais como : “a Mortalidade da Alma.”

O Novo Testamento nos retrata ao vivo essa absurda crença. ( Mt 22:23, Mc 12:18, Lc 20:27, At 23:8) Os saduceus eram os céticos, os materialistas, os livre pensadores dos dias de Jesus e não acreditavam na ressurreição. Outra doutrina destoante era sobre a existência dos anjos, que não criam. A seita dos saduceus era pequena, porém muito conceituada, pois os membros que a integravam eram ricos e influentes.

Eram mais políticos que religiosos. Juntamente com os fariseus faziam parte do Sinédrio.

Essênios

Eram separatistas, isto é, não faziam parte do corpo eclesiástico judaico, formando uma congregação distinta, inteiramente à parte tanto do judaísmo como das outras crenças existentes. Não foram mencionados no N.T.e o que sabemos sobre eles está nos escritos de Flávio Josefo, Plínio e Filon. No livro apócrifo de I Macabeus 7:13 aparece o termo “chasid” = puritanos, de onde derivou a palavra essênio .Eram ascetas e místicos. Afastaram-se dos demais judeus e viviam em comunidades nas ermas regiões do mar salgado. Como judeus da Palestina e Síria, falavam o aramaico. Os essênios apareceram como uma reação natural ao mundanismo e imoralidade dos grandes centros. Muitos eram celibatários e dedicavam-se a curas por meio de plantas.

Possuíam hábitos alimentares muito simples como um prato de comida de uma só qualidade. Sustentavam além das doutrinas tradicionais do judaísmo, certas doutrinas secretas que lhes estavam vedadas revelar a quem não fosse membro da seita.

Herodianos

Formavam um partido mais político do que religioso.Eram um com os saduceus em religião, divergindo apenas em alguns pontos políticos.

Em Mt 16:6, Jesus previne os discípulos contra o fermento dos fariseus (hipocrisia) e em Mc 8:15 previne contra os herodianos ( extorsão, crime, violação e injustiça ). Esta seita nasceu com Herodes “o grande” cuja política era de subserviência aos romanos, portanto, sustentavam que os judeus deviam pagar tributo a César. Em Dt 17:15 lemos: “ certamente estabelecerás como rei sobre ti, aquele que Jeová teu Deus escolher. A um dentre os teus irmãos estabelecerás como rei sobre ti; Não poderás por sobre ti um estrangeiro que não seja teu irmão”. Herodes e seus descendentes eram Idumeus, por tanto, usurpadores do trono judeu, dignos do ódio dos conservadores fariseus.

Fariseus e herodianos eram inimigos irreconciliáveis, no entanto, se uniram contra Cristo e urdiram planos para O apanharem.(Mt 22:17).Os herodianos admitiam a construção de templos de idolatria aos romanos o que era um insulto aos judeus, causando revoltas.

Zelotes

Josefo diz que os zelotes descendem de Judas de Gâmala que incitou os judeus a uma revolta contra os romanos, na ocasião de taxar os impostos no ano de 6 a.C. Os zelotes são conhecidos como galileus porque o fundador da seita era da Galiléia. O termo Zelote significa: homem de ação ou de Zelo, indicando o fanatismo em observar a Lei de Moisés.

Achavam que a Lei devia ser guardada mesmo à custa da espada, carregavam sempre uma pequena espada romana chamada sica que com o tempo acabou dando nome ao grupo ( sicários). Terminantemente se recusavam a pagar tributo a César e faziam levantes para resistir aos romanos (At 5:37 ). O grupo foi se degenerando até se tornarem bandidos e salteadores. Jesus teve um apóstolo que pertenceu a esta seita.Lucas o apresenta como Simão chamado zelote(Lc 6:15) Mateus e Marcos o chamam de Simão Cananita , equivalente aramaico do grego zelote. Jesus não apoiou os zelotes pois pagou tributo e ensinou respeito às leis, submetendo-se Ele mesmo como homem às leis de seu povo e daqueles que governavam a Palestina.


Instituições Judaicas

As principais instituições dos judeus nos dias de Jesus eram: o

Templo, as Sinagogas e o Sinédrio.

Templo:

Modelo do Templo de Herodes

O templo de Jerusalém era a coroa de glória dos judeus. Situado no monte Moriá, dominava a paisagem por sua grandiosidade e beleza. O primeiro templo foi construído por Salomão e destruído pelas tropas de Nabucodonozor em 586 a.C.. O segundo templo começou em 537 a.C.onde é mencionado por Ageu e Zacarias, profetas desta época. Foi concluído em 516 a.C. ( Ed 6: 13-15) Este templo durou até os dias de Herodes que no ano 37 a.C. tomou a cidade e algumas partes do templo foram incendiadas.

O novo prédio foi sendo construído e o velho demolido gradativamente. A obra durou 46 anos (João 2:20).As grandes festas atraíam multidões à cidade e a adoração centrava-se no templo. Havia cultos às 9:00, 12:00 e 15:00 horas. Os sacerdotes serviam por turmas e observava-se um elaborado ritual de sacrifícios por diversos tipos de pecados. Os judeus tinham autorização dos romanos para terem um corpo de polícia destinada a manter a ordem dentro do recinto sagrado. O destacamento era entregue a um capitão do templo( At 4:1). É possível que tenha sido esse destacamento que prendeu Jesus bem como Pedro e João.

A Sinagoga

Ruínas de uma Sinagoga dos Tempos de Jesus

Significa Reunião ou Casa de Reunião. Elas apareceram enquanto os judeus estavam exilados na Babilônia e logo se espalharam por todo o mundo onde havia Judeus esparsos. Pensa-se que em Jerusalém nos dias de Jesus, havia uma centena de Sinagogas. Em cada bairro, vila ou aldeia havia uma conforme o número da população e exercia uma influência poderosa e benéfica sobre a comunidade. A Sinagoga era controlada por 10 oficiais de boa reputação e cultura, inclusive aptos para o estudo da Lei.

Três deles eram chamados de “Chefes da Sinagoga” e compunham um tribunal para a solução de questões internas como dívidas, roubos, perdas, restituições, admissão de prosélitos, eleições, etc... Outro era o Oficial ou Mensageiro da Sinagoga e sua tarefa era dirigir as orações, superintender a leitura da Lei e conforme a ocasião, pregar. Três deles serviam de diáconos, cuidavam dos pobres e cobravam esmolas de casa em casa. Outro era o “Targumista” ou Intérprete atuando sempre quando a leitura das escrituras era feita. Outros dois não tinham função muito bem definida. O subalterno ou hazzan, atuava como conservador da propriedade e tinha o dever de cuidar do edifício e de tudo quanto dentro dele havia. O assistente tinha o dever de trazer o rolo para que a leitura fosse feita e depois retorná-lo no seu nicho, numa espécie de Arca. (LC 4:20).

O culto na Sinagoga consistia na recitação do credo judaico ou Shema: “ouve ó Israel; Jeová nosso Deus é o único Deus. Am arás, pois, a teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alm a, e de toda as tuas forças.” (Dt 6:4-5).

Frases de louvor chamadas “Bekarot” que começavam com a palavra Bendito, surgiam de todos no auditório. A seguir o Chefe da Sinagoga orava em voz alta. Depois havia um momento de oração silenciosa, seguia-se a leitura das Escrituras, no Pentateuco ou nos profetas, seguida de um sermão explicativo. O culto era encerrado por uma bênção pronunciada por algum membro sacerdotal.

A sinagoga por dentro

As sinagogas são de uma beleza impressionante. Contudo, essa não é uma grande preocupação de seus arquitetos. A despeito desse aspecto estético exterior, há três fatores essenciais que devem ser rigorosamente observados no que se refere às mobílias de uma sinagoga:

Arca

Esse componente é tido como o “sacrário da Torá”, ou seja, nela é guardada os rolos da Torá, os cinco primeiros livros de Moisés, onde se baseiam as leituras aos sábados.

Bimá

É uma espécie de tribuna onde o ministrante faz a leitura da Tora e dos Profetas e profere bênçãos (da Torá) sobre os presentes. Esdras, ao ensinar a Palavra de Deus ao povo de Israel, ministrou sobre um estrado, o que equivaleria a uma tribuna das sinagogas atuais: “E Esdras, o escriba, estava sobre um púlpito de madeira, que fizeram para aquele fim; e estava em pé junto a ele...” (Ne 8.4).

Assentos

O assento mais importante é o que a Bíblia chama de “cadeira de Moisés”: “Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus” (Mt 23.1,2). E era justamente nessa cadeira que se sentava o presidente da sinagoga. Segundo alguns, a distribuição dos assentos seguia uma ordem, uma organização. Por exemplo, os anciãos se sentavam próximo à Arca, de frente à platéia, os membros mais distintos à frente, os mais jovens atrás, e assim por diante.

O Sinédrio

Quadro de Uma Reunão do Sinédrio

Era a Corte Suprema dos judeus. Segundo Josefo, o Sinédrio apareceu em 57 a.C., quando Gabino, governador romano da Síria, dividiu a Palestina em 5 províncias e em cada uma instalou um Tribunal de Justiça .

Compunha-se de 70 membros normalmente entre os fariseus, saduceus, membros da família do sumo sacerdote e escribas. O sumo-sacerdote era o seu presidente. Antes da dominação romana, o Sinédrio tinha o direito de condenar à morte e executar o condenado. Os romanos cassaram aos judeus, o poder de executar alguém. Podiam condenar mas a sentença caberia ao governador romano, salvo casos de blasfêmia, como o de Estevão ( At 7) em que o Sinédrio executava a vítima sem a interferência de Roma por apedrejamento.

O Sinédrio não podia reunir-se à noite senão depois do nascer do sol.

O julgamento de Jesus pelo Sinédrio foi ilegal pois se processou à noite (Mc 14:53-65, Mt 26:57, Lc 22; 54-65, João 18:24). O Sinédrio desaparece como instituição no ano 70 d.C. quando Jerusalém é destruída . Apesar das diversas tendências, partidos e seitas, havia pontos fundamentais que todos os judeus sustentavam, como o monoteísmo e a esperança messiânica.

A Interpretação dos Escritos Sagrados e a Tradição dos Anciãos

Talmude e Midrash

Visto haver tanta ignorância sobre a questão do Talmude e sua literatura relacionada, e da importância de se conhecer essa questão para melhor entender a palavra de Deus, será proveitoso definir os termos.

A) Quanto à sua forma, O Talmude se compõe da Mishnah, a lei oral que já existia pelos fins do século 2 D.C coligida pelo Rabino Judá e da Gemara, os comentários dos Rabinos que viveram de 200 a 500 D.C., sobre a Mishnah.

B) Quanto ao seu conteúdo, o Talmude contém o Halakhah, que são decretos legais e preceitos acompanhados de discussões elaboradas em virtude das quais os juízes chegaram às suas decisões; e o Haggadah, interpretações não-legais.

O Talmude é a fonte de onde se deriva a LEI JUDAICA (não a Lei de Deus). Os judeus ortodoxos estão na obrigação de segui-lo como regra de fé e de Prática. Os judeus liberais, contudo, não o consideram autoritativo, ainda que o reputem interessante e venerável. Porém, é importante uma compreensão acerca de como os judeus interpretavam o Primeiro Testamento (AT). E também lança luz sobre determinadas passagens do Segundo Testamento (sem levar em conta esses conceitos é impossível entender corretamente algumas mensagens do Segundo testamento).

No Talmude toma-se a posição que a Lei de Moisés precisa ser adaptada às condições sempre mutáveis de Israel. É asseverado que a "Grande sinagoga" (120 homens) possuía tal autoridade, ainda que não existam tais autoridades (como sabemos a autoridade é de Jesus, dada pelo Pai). O Rabino Akiba (c.de 110-135 D.C), ou algum erudito anterior a ele fez uma coleção completa das leis tradicionais. O Rabino Judá se utilizou desse material, juntamente com outras porções, em sua edição da Mishnah (lei Oral).

A coleção mais antiga da Mishanah pode ser atribuída ao tempo das famosas escolas de Hilel e Samai que floresceram no período do segundo templo de Jerusalém. Portanto no tempo de nosso Senhor.

A Mishanah se divide segundo três princípios: (1) Tema; (2) ordem bíblica; e (3) divisões artificiais (chamadas sedhãrim), que contêm o material de sessenta tratados legais. As principais categorias são subdivididas em tratados, capítulos e parágrafos.

A primeira ordem (sementes) trata das leis agrícolas e deveres religiosos relacionados com o cultivo da terra, incluindo mandamentos concernentes ao tributo sobre produtos agrícolas que devia ser pago aos sacerdotes, aos levitas e aos pobres.

A segunda divisão (Festas) estabelece as diversas festividades do calendário religioso, incluindo a observância do sábado, com as cerimônias e sacrifícios que deveriam ser apresentados em tais dias.

A terceira ordem (Mulheres) aborda as leis relativas ao casamento, ao divórcio, ao casamento levirato, ao adultério, e às regulamentações para os nazireus.

A Quarta divisão da Mishanah (lei Oral) (MULTAS) trata da legislação civil, das transações comerciais de diferentes espécies, do modo de proceder legal, além de uma coletânea de máximas éticas dos rabinos.

As coisas sagradas que se ocupa a quinta ordem da Lei Oral apresentam legislação referente a sacrifícios, aos primogênitos, aos animais limpos e imundos, juntamente com uma descrição do Templo de Herodes.

A sexta parte da Mishanah (Purificação) estabelece as leis que se referem à pureza e à impureza levíticas, às pessoas e objetos puros e impuros, e às purificações. Em todas essas divisões, o propósito do Rabino Judá, foi diferenciar entre a Lei corrente e a Lei obsoleta, bem como entre as práticas civis e as práticas religiosas. Ou seja, o Rabino em questão (e outros anteriores a ele) modificou a Lei de Deus, fazendo acréscimos, tornando-a um JUGO pesado que nem mesmo eles conseguiam seguir.

Midrash

O vocábulo Midrash se deriva da raiz hebraica dãrash, 'sondar, investigar', ou seja, descobrir um pensamento que não pode ser percebido à superfície. Refere-se, por conseguinte, a uma exposição didática ou homilética. Ocorre por duas vezes no Primeiro testamento (AT), em 2Cr 13:22, onde a ' história ' do profeta Ido é referida, em 2 Cr 24:27 onde a "história" do livro dos Reis é referida. 1provavelmente foram desenvolvimentos didáticos das narrativas históricas que possuímos, lançando mão dessas narrativas a fim de destacar alguma verdade religiosa; porém, nada se conhece deles além de seus títulos' (HDB, I, pag.459)

Nosso termo recebeu seu emprego mais lato (maior) em contextos extra-bíblicos. A palavra Midrash algumas vezes é usada para fazer contraste com a Mishanah (Lei Oral), em qual caso denota aquele ramo da erudição rabínica que se refere especialmente às regras da Lei tradicional.

É impossivel, neste estágio de nosso estudo, afirmar qual é o metodo mais antigo de estudo - O Midrash ou a Mishnah. (Vd G.F. Moore, Judaism, I, págs.150 e segs.).

É suficiente dizer que após o regresso dos judeus da Babilonia, com a atividade de Esdras e sua escola em favor da lei, a exposição e o comentário para a congreção se tornaram uma necessidade. A forma ORAL desses comentários para a congreção foi posteriormente cristalizada em forma ESCRITA. Visto que a porção maior das obras importantes não mais existe em sua composição é quase impossivel de ser determinada. A atividade no Midrash chegou ao fim logo depois que o Talmude babilônico ficou completo. Com o tempo o Midrash foi ultrapassado pelas disciplinas da história, da gramática e da teologia.

5 comentários:

Unknown disse...

MUTO BOM ESSE BLOG.CONTINUE NA FÉ DE JESUS, E QUE DEUS ABENÇÕE VCS

Anônimo disse...

Josias Pereira
Que Deus continue abençoando aos responsáveis por este blog.
Um comteúdo informativo de grande credibilidade.
Sou Ministro do Evangelho e professor de teologia no Pólo da Universidade Luterana do Brasil em santa Cruz Rj e diretor do Departamento de Educação e Cultura das Assembléias de Deus - Areia Branca Rj;e me utilizei de informações daqui para enriquecimento de nossas aulas.
Obrigado por tão admiravel colaboração.

Unknown disse...

ADOREI TUDO ISSO ..VC MNE AJUDOU MUITO BRIGADÃAO FIKA COOM DEUS

Anônimo disse...

gostei muito de ler algo tao importaNTE COMO ESSE Q NOS EDIFICA A NOSSAA VIDA.

Anônimo disse...

amei,me ajudou bastante em um trabalho.Obrigada.Zildeene

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