terça-feira, 21 de março de 2017

O ABANDONO NA CRUZ


Porque o Pai abandonou o Filho na cruz?
 Por volta das três horas da tarde, Jesus bradou em alta voz: "Eloí, Eloí, lamá sabactâni? " que significa: "Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? "   Marcos 15:34


A crucificação de Jesus é o ponto central do projeto da salvação, naquele evento se concretizava aquilo que Deus planejara na eternidade, como afirma Pedro na sua primeira carta: mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês. (1 Pedro 1:19, 20 vt Ap 13:8; At 4: 24, 28; Ef 1: 4 – 11; 3: 9 – 11; 2Tm 1: 9), bem como anunciou no tempo e na história, via profecias, tipos e alegorias, cujos registros figuram mesmo como um fio condutor, perpassante pelo antigo testamento, trazendo uma impressionante unidade a esse grande bloco de livros das escrituras sagradas, de Gênesis à Malaquias, a quantidade deles é tão grande, que mesmo o resumo didático deles se constitui esforço descomunal.

Em Gênesis podemos ver Jesus como: Aquele que pisa a cabeça da serpente (3: 15); o filho sacrificado (22: 6 – 16); Em Êxodo Ele figura como o cordeiro pascal (12: 1 - 29), em Levítico com cordeiro da propiciação (5: 17 – 19). Os Salmos têm várias profecias a respeito da obra redentora de Jesus, como no vinte e dois, que fala de sua crucificação. Os profetas falam abundantemente do sacrifício de Jesus, exemplo disso é o capitulo cinqüenta e três de Isaias.

O tempo do cumprimento do plano eterno do Senhor é chamado, por Paulo, de plenitude dos tempos (Gl 4: 4; Ef 1: 10), quando o prazo entre as profecias e seu cumprimento se completa. Na hora crucial, quanto todo esse plano estava se concretizando, Jesus expressa, em um brado, a dor do abandono: ..."Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? "  (Mc 15:34). Porque o Pai abandonou o filho na horrenda hora da cruz? A resposta passa pela essência santa e justa de Deus, seu conseqüente modo de se relacionar com o pecado e de como Jesus assume os pecados e culpas dos homens na cruz.

Deus é absolutamente santo, nEle não existe qualquer imperfeição, tanto que nada, nem ninguém pode ser comparado a Ele nesse quesito (1Sm 2: 2; 11: 9; Isaias 4: 25), essa santidade do Senhor é passiva, ou seja, Ele não se esforça para ser santo, Ele simplesmente o é (Jó 34: 10). Tiago diz que Deus sequer pode ser tentado pelo mal (Tg 1: 13), e que Ele não tem nenhuma sombra de variação (Tg 1: 79). Essa santidade absoluta e passiva do Senhor é muito bem expressa na expressão hebraica para ser santo, qadash, que significa apartado, cortado, separado. Deus está afastado, separado, sem qualquer contato com o pecado.

Como conseqüência ética de sua santidade, Deus se afasta, se aparta do pecado e dos pecadores (Is 59: 2). Habacuque afirma que a pureza dos seus olhos não lhes deixam ver o mal (Hc 1: 13). A arca da aliança, símbolo da presença do Senhor no meio do povo de Israel, ficava inacessível, no santíssimo lugar, para que não tivesse contato com o povo pecador, e apenas o sumo sacerdote entrava lá, uma vez por ano, tendo primeiro oferecido sacrifício de purificação (Hb 9: 7). A tentativa de se aproximar desse Deus santo, levaria, fatalmente, o pecador à morte (Ex 33: 20), como bem entendeu Isaias: Então gritei: Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! " (Is 6:5). De fato toda essa santidade e justiça torna impossível que Ele seja visto por olhos humanos (1Tm 6: 16).
A santidade de Deus é sempre vista, nas escrituras, em conexão com sua justiça (Isaias 5: 16). Sua justiça decorre de sua santidade, o Deus absolutamente santo é absolutamente justo, o que requer que Ele puna o pecador, aquele que se rebela contra sua santidade (Na 1: 3). Esse trato justo e punitivo de Deus é chamado, na Bíblia, de a ira de Deus (Rm 2: 5). Wayne Grudem acentua que a ira de Deus diz que Ele odeia intensamente o pecado. É comum se ler que os rebeldes contra o Senhor estão debaixo de sua ira (Rm 1: 18; Cl 3: 6; Ef 5: 6), e ainda que haverá a grande ira do Todo Poderoso, também chamada de furor (Is 13: 13; Sf 2: 2; Rm 2: 5; Ap 14: 10;).

De um lado há um Deus santo e justo, apartado do pecado e que, na sua ira faz justiça; do outro lado há os pecadores, rebeldes, inimigos dEle (Rm 3: 23). Contudo, a palavra do Senhor mostra esse mesmo Deus como amoroso, benigno, disposto a perdoar os que se rebelaram contra Ele. Como equacionar o amor e a justiça de Deus? Em Jesus.

Deus não poderia simplesmente perdoar os pecadores, ele é justo juiz, isso atentaria contra sua santidade e justiça. Alguém deveria pagar a conta. Não poderia ser um animal, pois esses são ineficazes, visto que os pecadores são humanos (Hb 9: 18), muito menos um outro pecador, visto que ao padecer, o faria sendo condenado pelos seu próprios pecados. Então, para ser justo e justificador (Rm 3: 25, 26), o Pai envia seu Filho, para assumir a culpa dos pecadores (Is 53: 6. Rm 4: 25). Jesus pode fazê-lo por ser homem perfeito, cordeiro imaculado (1Pe 2: 22; Jo 1: 29; 1Pe 1: 19), e ao mesmo tempo sendo Deus, pode oferecer ao Pai um sacrifício eterno (Jo 1: 1; Hb 9: 14), isso aconteceu na cruz; Pedro diz que, sobre o madeiro Jesus levou os nossos pecados (1Pe 2: 24). Na hora da crucificação, recebendo os pecados dos homens, Jesus ficou apartado de Deus, e sentiu, em toda intensidade, o peso do furor da ira eterna do Senhor, por isso o seu grito tão desesperador.
O sacrifício de Jesus mostra que Deus foi muito longe em seu amor, enviando seu próprio filho para morrer no lugar dos pecadores, fazendo-o sofrer o peso de sua ira furiosa, para que todos quantos se chegam à Ele, crendo em Jesus, sejam perdoados e justificados por sua graça. Como diz tão canto hino 317 do Salmos e Hinos:

Foi na cruz, foi na cruz; Que a tremer percebi.
Meus pecados castigados em Jesus.
Foi ali, pela fé, onde os olhos abri,
E hoje salvo, me alegro em sua luz.

BERKHOF, LOUIS, Teologia Sistemática, Campinas, São Paulo, Brasil, Editora Cultura Cristã;
GRUDEM, WAYNE, Teologia Sistemática, 1ª Edição, São Paulo, São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova.
POHL, ADOLF, Gálatas, 1999, Curitiba, Paraná, Editora Evangélica Esperança
http://solascriptura-tt.org/Cristologia/Cristlg-PromssPlanEtrnSalvc-Kelson.htm 

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