Por volta das três horas da tarde, Jesus bradou em alta voz: "Eloí, Eloí, lamá sabactâni? " que significa: "Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? " Marcos 15:34
A crucificação
de Jesus é o ponto central do projeto da salvação, naquele evento se
concretizava aquilo que Deus planejara na eternidade, como afirma Pedro na sua
primeira carta: mas pelo precioso sangue
de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês. (1 Pedro 1:19,
20 vt Ap 13:8; At 4: 24, 28; Ef 1: 4 – 11; 3: 9 – 11; 2Tm 1: 9), bem como
anunciou no tempo e na história, via profecias, tipos e alegorias, cujos
registros figuram mesmo como um fio condutor, perpassante pelo antigo
testamento, trazendo uma impressionante unidade a esse grande bloco de livros
das escrituras sagradas, de Gênesis à Malaquias, a quantidade deles é tão
grande, que mesmo o resumo didático deles se constitui esforço descomunal.
Em
Gênesis podemos ver Jesus como: Aquele que pisa a cabeça da serpente (3: 15); o
filho sacrificado (22: 6 – 16); Em Êxodo Ele figura como o cordeiro pascal (12:
1 - 29), em Levítico com cordeiro da propiciação (5: 17 – 19). Os Salmos têm
várias profecias a respeito da obra redentora de Jesus, como no vinte e dois,
que fala de sua crucificação. Os profetas falam abundantemente do sacrifício de
Jesus, exemplo disso é o capitulo cinqüenta e três de Isaias.
O
tempo do cumprimento do plano eterno do Senhor é chamado, por Paulo, de
plenitude dos tempos (Gl 4: 4; Ef 1: 10), quando o prazo entre as profecias e
seu cumprimento se completa. Na hora crucial, quanto todo esse plano estava se
concretizando, Jesus expressa, em um brado, a dor do abandono: ..."Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? " (Mc 15:34). Porque o Pai abandonou o filho na
horrenda hora da cruz? A resposta passa pela essência santa e justa de Deus,
seu conseqüente modo de se relacionar com o pecado e de como Jesus assume os
pecados e culpas dos homens na cruz.
Deus
é absolutamente santo, nEle não existe qualquer imperfeição, tanto que nada,
nem ninguém pode ser comparado a Ele nesse quesito (1Sm 2: 2; 11: 9; Isaias 4:
25), essa santidade do Senhor é passiva, ou seja, Ele não se esforça para ser
santo, Ele simplesmente o é (Jó 34: 10). Tiago diz que Deus sequer pode ser
tentado pelo mal (Tg 1: 13), e que Ele não tem nenhuma sombra de variação (Tg
1: 79). Essa santidade absoluta e passiva do Senhor é muito bem expressa na
expressão hebraica para ser santo, qadash, que significa apartado, cortado,
separado. Deus está afastado, separado, sem qualquer contato com o pecado.
Como
conseqüência ética de sua santidade, Deus se afasta, se aparta do pecado e dos
pecadores (Is 59: 2). Habacuque afirma que a pureza dos seus olhos não lhes
deixam ver o mal (Hc 1: 13). A arca da aliança, símbolo da presença do Senhor
no meio do povo de Israel, ficava inacessível, no santíssimo lugar, para que
não tivesse contato com o povo pecador, e apenas o sumo sacerdote entrava lá,
uma vez por ano, tendo primeiro oferecido sacrifício de purificação (Hb 9: 7).
A tentativa de se aproximar desse Deus santo, levaria, fatalmente, o pecador à
morte (Ex 33: 20), como bem entendeu Isaias: Então gritei: Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios
impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o
Rei, o Senhor dos Exércitos! " (Is 6:5). De fato toda essa santidade e
justiça torna impossível que Ele seja visto por olhos humanos (1Tm 6: 16).
A
santidade de Deus é sempre vista, nas escrituras, em conexão com sua justiça
(Isaias 5: 16). Sua justiça decorre de sua santidade, o Deus absolutamente
santo é absolutamente justo, o que requer que Ele puna o pecador, aquele que se
rebela contra sua santidade (Na 1: 3). Esse trato justo e punitivo de Deus é
chamado, na Bíblia, de a ira de Deus (Rm 2: 5). Wayne Grudem acentua que a ira
de Deus diz que Ele odeia intensamente o
pecado. É comum se ler que os rebeldes contra o Senhor estão debaixo de sua
ira (Rm 1: 18; Cl 3: 6; Ef 5: 6), e ainda que haverá a grande ira do Todo
Poderoso, também chamada de furor (Is 13: 13; Sf 2: 2; Rm 2: 5; Ap 14: 10;).
De
um lado há um Deus santo e justo, apartado do pecado e que, na sua ira faz
justiça; do outro lado há os pecadores, rebeldes, inimigos dEle (Rm 3: 23).
Contudo, a palavra do Senhor mostra esse mesmo Deus como amoroso, benigno,
disposto a perdoar os que se rebelaram contra Ele. Como equacionar o amor e a
justiça de Deus? Em Jesus.
Deus
não poderia simplesmente perdoar os pecadores, ele é justo juiz, isso atentaria
contra sua santidade e justiça. Alguém deveria pagar a conta. Não poderia ser
um animal, pois esses são ineficazes, visto que os pecadores são humanos (Hb 9:
18), muito menos um outro pecador, visto que ao padecer, o faria sendo
condenado pelos seu próprios pecados. Então, para ser justo e justificador (Rm
3: 25, 26), o Pai envia seu Filho, para assumir a culpa dos pecadores (Is 53: 6.
Rm 4: 25). Jesus pode fazê-lo por ser homem perfeito, cordeiro imaculado (1Pe
2: 22; Jo 1: 29; 1Pe 1: 19), e ao mesmo tempo sendo Deus, pode oferecer ao Pai
um sacrifício eterno (Jo 1: 1; Hb 9: 14), isso aconteceu na cruz; Pedro diz
que, sobre o madeiro Jesus levou os nossos pecados (1Pe 2: 24). Na hora da
crucificação, recebendo os pecados dos homens, Jesus ficou apartado de Deus, e
sentiu, em toda intensidade, o peso do furor da ira eterna do Senhor, por isso
o seu grito tão desesperador.
O
sacrifício de Jesus mostra que Deus foi muito longe em seu amor, enviando seu
próprio filho para morrer no lugar dos pecadores, fazendo-o sofrer o peso de
sua ira furiosa, para que todos quantos se chegam à Ele, crendo em Jesus, sejam
perdoados e justificados por sua graça. Como diz tão canto hino 317 do Salmos e
Hinos:
Foi na cruz, foi na cruz; Que a tremer
percebi.
Meus pecados castigados em Jesus.
Foi ali, pela fé, onde os olhos abri,
E hoje salvo, me alegro em sua luz.
BERKHOF,
LOUIS, Teologia Sistemática, Campinas, São Paulo, Brasil, Editora Cultura
Cristã;
GRUDEM,
WAYNE, Teologia Sistemática, 1ª Edição, São Paulo, São Paulo, Sociedade Religiosa
Edições Vida Nova.
POHL,
ADOLF, Gálatas, 1999, Curitiba, Paraná, Editora Evangélica Esperança
http://solascriptura-tt.org/Cristologia/Cristlg-PromssPlanEtrnSalvc-Kelson.htm
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